Vivendo em Jericoacoara

Hoje eu tive um dos pesadelos mais assustadores dos últimos tempos.
Assustador porque não havia como ser mais próximo da realidade.

No sonho eu voltava pra Sampa, de mala e cuia, algumas pessoas vinham me buscar, me ajudar, umas que não conhecia, outras conhecidas, todos me condenando por ter ficado tanto tempo aqui, todos achando aqui um lugar ruim, minha família não estava, o único ponto de referência de que algo bom poderia acontecer foi o Weiberth, ele estava lá, e nós nos abraçávamos e o medo diminuía um pouco, mas ele não ficava muito, estava longe.


Acordei com vontade de chorar, sem saber o que fazer para essa dor diminuir.

Penso nos meus dias sem poder passar pelo restaurante visitar a Li e tomar meu suco de abacaxi com limão, e encontrar o Salgado para ele ficar me atazanando? Com quem vou conversar por horas sobre qualquer coisa, comendo besteiras, assistindo filmes e fazendo festas?

E os banhos de mar em qualquer horário, minhas comilanças, minhas aventuras com as meninas....ah!

Ah Jeri, Jeri...trouxe tantas coisas boas na minha vida, eu sei que a vida pede mais, mas preciso de força para seguir em frente e deixar tudo isso para traz!



XOXO

T.



Nota: hoje eu acordei meio poetinha...hihi...só nas rimas toscas não intencionais.

Choque Cultural, é o que define viver em Jeri.


Você sai da sua realidade sabendo que existem outras diferentes, até entende o funcionamento, mas não está inserido nela, então na verdade, não sabe nada!

Aí você pega sua bagagem (cultural e física) e traz para esse lugar onde os povos se encontram, conhece um Brasil de livros didáticos e Globo Repórter, e uns estrangeiros que viveram uma vida diferente da sua e do lugar onde vocês se encontraram.

Esse assunto merece bem mais de um post, por isso hoje vou falar da relação estrangeiro, ficando nos italianos que são a maioria por aqui. Eu tenho contato com muitos italianos, meus chefes, hóspedes, pessoas na rua, e existe um estereótipo clássico que infelizmente prevalece dentre os freqüentadores da vila.

Tem um ditado que diz "Tutti buona Gente!", aqui infelizmente a grande maioria não se enquadra nesse perfil . De um modo geral são homens interessados em sexo fácil, bebidas e maconha, que mal se importam com o contexto ambiental e cultural de onde estão, alguns pseudo-preocupados praticam 'wind sports', mas não vão muito além disso. É claro que esse é um tipo generalizado, e talvez até preconceituoso de minha parte, mas infelizmente é assim que vejo a maior parte deles.

Tem aqueles que escolheram aqui como lar, não são exatamente como os primeiros, estão aqui e querem ficar, então enxergam o lugar como uma oportunidade, muitos se engajam em causas, defendem a vila, tem o pensamento que Jeri precisa para se manter. O único problema é que tem a cultura muito enraizada, são o que eu chamo de 'bairristas', e pessoas assim não estão muito prontas para se inserir em culturas diferentes, pois não sabem 'dividir para conquistar', não conseguem entender que aqui não é a Itália e que terão que abrir mão de algumas coisas para viver em paz, e acabam 'abusando' de quem está por perto.

Uma coisa muito bonita que se observa nesse povo, é que eles tem o coração aberto, se jogam de cabeça em suas empreitadas, são intensos, no amor e no ódio, e a alimentação...ah como comem bem. Não são pessoas que passam pela vida sem viver.


Glossário cearence:

Abusando: enchendo, irritando, abusando mesmo, só que em um sentido mais amplo. "peguei abuso dele" = "não aguento mais ele".

Nota: assisti "Eat, pray and love" enquanto estava aqui e aprendi a expressão do título da postagem, e é bem isso mesmo, italianos se permitem...vivem, de um jeito que nós ainda não aprendemos sem a culpa de que somos cheios.



XOXO

T.

Viver em Jeri me trouxe uma porção de coisas, aprendizados e pessoas. (não se ofendam as que ainda não foram citadas, viu Salgado?)

Combinamos tudo e em pouquíssimo tempo lá estava ela chegando, fui buscá-la na Principal, 'desenrolada' que é conseguiu um transfer no aero e chegou mais cedo que o previsto, cabeçuda como vim a descobrir não se ligou que tinha que botar crédito no celular e não conseguimos nos falar direito nesse dia,rs


No fim, lás estava ela, sorridente, já falando com todo mundo, jantamos, conversamos e pela manhã já muito trabalho, ela se jogou de cabeça na bagunça e confusão daqui, com aquele ar de quem vai mudar o mundo que novos funcionários tem, hoje já está maluquinha,rs.


O mais engraçado, foi o fato de passarmos a dividir a casa, e tudo deu muito certo, cada uma com suas concessões, e tudo se ajeitou, passamos por tanta coisa que quem sabe essa parte da nossa história ainda vire um livro,rs.


Somos unidas por vários motivos, nas festas por dançar de se acabar, no trabalho - melhor nem dizer,haha - em casa porque somos pacientes...enfim, eu amo essa gaúcha que veio parar na minha vida cearence!


Agora eu estou aqui, na retrospectiva para voltar pros pedacinhos do meu coração que deixei em Sampa, e já colecionando muitos pedacinhos que vão ficar por aqui. Mas fica aquela música 'valeu a pena!'


XOXO
T.

'São tempos difíceis para os sonhadores...'

Tem sido difícil viver aqui ultimamente, é difícil estar longe dos nossos, é difícil passar por problemas, é difícil ser gente grande.
Num período de 15 dias minha casa foi roubada duas vezes, usuários de crack provavelmente. Levaram dinheiro, objetos de valor...Mas mesmo as perdas sendo grandes, o que me roubaram mesmo foi a paz, não sei mais o que vou fazer da minha vida, onde e como vou viver, e meus gatos estão sem ter onde ficar, e eu não tenho a menor idéia de como reagir a isso, como voltar aos eixos, como voltar a 'viver em jericoacoara...'

XOXO
T.

Você percebe mesmo que saiu de casa quando fica doente.

Na lista de ninguém além da sua mãe você estará no topo das prioridades, e a culpa não é das pessoas.
Não existe nada mais solitário do que ficar doente, não poder cuidar de você mesmo, e depender dos outros para fazer isso, por menor que seja a doença a sensação de invalidez e dependência é desesperadora.
Ontem eu só sabia pensar "Eu quero a minha mãe!", e em todo aquele excesso de cuidados, carinhos e comidinhas na hora certa, meu pai trazendo as coisas que eu precisasse, minha irmã me mimando...Crescer dói!

Levei um bom tempo para pegar uma chuva aqui, mas também quando peguei...Dels!

[logo menos uma foto da chuva]

Chove muito, e numa vila tão pequena as coisas tomam uma proporção bem diferente, fica impossível sair de casa, com toda essa água e areia, os sapos e rãs tomam conta dos lugares, e muitas vezes entram em casa (ecat).
Tivemos um episódio terrível com nossa primeira chuva aqui, nossa casa foi tomada por formigas com asas, e quando digo tomada, digo que eram milhares, impossível dormir com os bichos caindo em cima de nós. Solução mosquiteiro+ventilador.
Mas o que muda mesmo com o clima, são as pessoas, os turistas somem da cidade, os moradores se escondem em suas casas, fica tudo muito deserto, isso porque ainda não é a baixa temporada, mas a loucura, a ferveção, o povo todo...some! Me deu medo...rs

Em breve vou atualizar com um post sobre as ultimas festas...ui Jeri bombando!!!

XOXO
T.